15 junho 2009


Uma noite no Enterro da Gata

Cor, alegria, música e festa. A promessa de uma semana de Enterro da Gata perfeita.
Por volta das 22h30, as bilheteiras começam a abrir. Do lado de fora do recinto são perceptíveis os primeiros preparativos para os concertos e a música, embora ainda diminuta e distante, que vem das barraquinhas de curso já abertas.
O bilhete está comprado. Mas a entrada no recinto ainda me vai levar alguns minutos: primeiro a fila para entregar o bilhete, segundo a inspecção dos seguranças a cada elemento que atravessa as barreiras da entrada. Depois sim, chego ao recinto.
A hora ajuda a que lá dentro ainda não haja muito barulho, a que pareça tudo muito calmo. O palco está desocupado, a assistência ainda é pouca e não há muitos copos vazios no chão – o recinto é limpo todos os dias antes de as portas abrirem.
Consegue-se circular livremente de um lado para o outro sem grandes confusões ou embaraços. Mas toda esta aparente calmaria acabaria dentro de pouco tempo.
Vinte e quatro horas: o recinto enchia a olhos vistos, deixava de se poder ver a totalidade do espaço como há pouco menos de uma hora.
Agora já se vêem mais copos espalhados, a azáfama dentro das barraquinhas é muita, tal como a impaciência dos que estão encostados ao balcão das mesmas à espera das bebidas.
O barulho é imenso. Conversar aqui é uma tarefa impossível. Os ânimos começam a elevar-se: ouvem-se as habituais músicas de curso, os típicos ‘hinos’ às bebidas (e às bebedeiras), numa mistura de sons imperceptíveis.
Enquanto uns se divertem, há grupos que cá estão para trabalhar. É o caso dos voluntários da “Gata na Saúde” e do projecto (pioneiro este ano no Enterro da Gata) “Mais saúde, menos riscos”. No meio da multidão instalada seguem, em grupos, distribuindo preservativos, tendo como objectivo esclarecerem as dúvidas dos presentes e de lhes transmitir alguns conselhos chave para que o Enterro da Gata corra pelo melhor. A tarefa não é fácil. Pelo percurso encontram pessoas já alcoolizadas e outras que não estão minimamente interessadas com a mensagem que eles pretendem passar. A propósito, assisti a uma situação que considero caricata, mas desta vez foi a diferença linguística que se manifestou como impedimento. Durante a entrega das caixinhas de preservativos, surge um grupo de colegas estrangeiros, (certamente ERASMUS, não estando por isso familiarizados com estas iniciativas) que, espantados, ficaram a olhar para as caixinhas sem saberem o que aquilo era. Numa tentativa demorada, o grupo de intervenção explicou-lhes do que se tratava. A barreira linguística foi, por fim, ultrapassada, mas com grande esforço.
Copo atrás de copo, a hora vai avançando e os excessos da bebida também. Deve andar por volta das 2 horas e tal da manhã.
Os primeiros socorridos começam a ser encaminhados, senão mesmo arrastados por colegas para a tenda da “Gata na Saúde”. Vão desamparados, mas de copo na mão, o amigo fiel das festas académicas! Porém, quando chegarem à tenda, os efeitos do álcool ou drogas serão atenuados. A festa continua, apesar do vai e vem de alcoolizados que entra e sai da tenda. Afinal é tanta gente que quase nem se dá por isso.
Aparte os que estão na “Gata na Saúde” a serem assistidos por enfermeiros e médicos, ninguém parece querer arredar pé daqui. A música continua em todos os bares e em todas as barraquinhas. O frio e a chuva dão o ar da sua graça, mas isso é mal menor. Ao que me parece os copos aquecem o corpo e a chuva refresca a alma.

Filipa Carvalho